quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Jogos de Poder (2007)














Charlie's Wilson War

Em primeiro lugar lamento que o meu primeiro texto sobre cinema neste blogue tenha por tema um filme tão pobre. Mas, enfim, vi-o hoje e a vida não é feita só de bons vinhos. Adiante.

Como experiência estética este filme (Charlie's Wilson War, no original) em nada justifica a ida ao cinema, pela simples razão do cinema ser pago e a televisão gratuita. A saturação narrativa disposta ao longo dos seus 97 minutos bombardeia sobre o espectador quantidade tal de informação à espera de ser montada, que este mais não faz durante o filme do que acompanhá-lo e tentar correr tão depressa quanto ele. Esta é uma estratégia sempre comum à televisão para não deixar espaço ao espírito critico, mas pouco apreciável em cinema. Como já disse, o cinema é pago. À unidade. E o espectador sempre gosta de olhar o filme olhos nos olhos.

A nível dos planos e da montagem, é usado frequentemente o contracampo e situações com duas personagens, como convém a um filme que pouco mais faz do que ilustrar o seu argumento. Não que eu esteja a desmerecer o realizador Mike Nichols. Simplesmente não há espaço para ele. A montagem traz-nos de tempos a tempos imagens da televisão e reportagens no Afeganistão a lembrar-nos o tema do filme e as suas pretensões de veracidade. Tendo em conta a dramatização excessiva das personagens, a sua tendência falsa para fazerem grandes actos e serem vulgares em simultâneo, e a forma como o filme reduz uma guerra às acções de algumas pessoas - ridicularizando os soviéticos quando necessário, cujos pilotos discutem a sua vida sexual enquanto bombardeiam aldeias -, diria que a história do Capuchinho Vermelho bem filmada tem mais de verdade do que este Jogos de Poder e os seus tiques verídicos.

No meio de tudo isto há, obviamente, o comentário político, que é, aliás, o grande propósito do filme. Hoje em dia, continua-se ainda a pensar que o poder do cinema e as repercussões sociais dos seus avisos, são também válidos para os maus filmes. Jogos de Poder diz-nos claramente que não se pode invadir um país e abandoná-lo, em referências concretas, embora diversas, ao Afeganistão e ao Iraque. As consequências daquele Afeganistão entregue a si mesmo que é referido no final de Jogos de Poder são hoje bem conhecidas. Mas isto, dito pela boca dum mau filme, de que interessa? Não possui qualidade cinematográfica para sublinhar os seus argumentos e influenciar quem quer que seja.

Se lhe desse uma nota dava 2 - de 0 a 5 -, querendo dizer que é mau filme mas visível, ou seja, ninguém morre por ver o filme... mas, mais uma vez, há o dinheiro. Acho que também dava 2 a uma boa noite de televisão...

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